Benfica: O reflexo de um país

Entre a emoção e a cegueira, o Benfica espelha o que Portugal tem de mais contraditório: o apego ao passado, a recusa da mudança e a facilidade com que se confunde memória com competência.

Se o grande Eusébio, quando vivo, decidisse candidatar-se a presidente do Benfica, seria bem capaz de ganhar. A maioria ignoraria a sua competência para o cargo — bastaria o nome, o símbolo, o afeto.
O Benfica é, afinal, o reflexo deste país: um lugar onde a emoção se sobrepõe à razão, onde o coração vence sempre a cabeça, e onde a nostalgia pesa mais do que o futuro. Um país envelhecido, pouco exigente e demasiadamente emocional.

É o mesmo país que acredita estar a combater a corrupção ao colocar, como segunda força política, um partido feito de agressores, ladrões de malas e oportunistas. Acredita que essa gente é a resposta para o sistema que critica — e nesse autoengano revela o seu cansaço, mas também a sua ingenuidade.

Entre os sócios do Benfica, o raciocínio é parecido. Muitos olham para Rui Costa e ainda veem o jogador sublime, o “Príncipe de Florença” regressado a casa. Poucos enxergam o dirigente sem norte, o aprendiz do homem que transformou o clube numa máquina de negócios opacos.
Um presidente que, depois de anos na estrutura, é capaz de dizer que nada viu, nada soube, nada fez — como se o futebol moderno fosse apenas uma recordação das chuteiras penduradas no balneário.

A maioria ignora o fosso financeiro crescente, o rodopio constante de jogadores e treinadores, os dirigentes que batem com a porta. Ignora, ou prefere ignorar — porque isso obrigaria a pensar, e pensar dá trabalho.

Tal como o seu presidente, muitos sócios nada veem, nada sabem, nada fazem. Mas continuam a aplaudir, a votar, e a arrastar para o abismo aquele que foi, em tempos, um dos maiores clubes de futebol do mundo.

O Benfica é hoje um clube sem alma, como um país sem memória crítica, acaba sempre por se perder na ilusão de que ainda é o que foi.

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